segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Liberdade para inovar (e comprar)



      As discussões sobre os estereótipos reforçados pela Publicidade é um assunto recorrente, principalmente na Internet. Feministas frequentemente acusam publicidades de tratar a mulher como objeto ou como inferiores, intelectualmente e fisicamente, aos homens. Contraditoriamente, essa discussão leva a outra: a falta de inovação presente nesse setor. Podemos citar, como exemplo, as publicidades de cerveja, que retratam o dito universo “dos sonhos” masculino: descanso, bebida e... mulheres.
            No entanto, a própria inovação é o conceito por trás de muitas publicidades. Esse é o exemplo de uma campanha publicitária da MaxHaus, uma empresa do ramo imobiliário, especializada em apartamentos customizáveis. Com o slogan de “PARA CABEÇAS SEM PAREDE – MORE EM SUA ÉPOCA”, a MaxHaus busca uma identificação do público alvo, jovens que buscam modernidade, inovação, expressão e liberdade, equivalente à customização. Na sua página no Facebook, questionam o consumidor-leitor: “Se você não é igual a ninguém, por que seu apto deveria ser igual aos outros?”. Para conseguir transmitir essa imagem, retratam papeis e comportamentos atribuídos e/ou esperados presentes até hoje e os colocam como se tivessem sido quebrados. “Existia uma parede entre ser mãe e ser sexy”, “Existia uma parede entre ser tatuado e ser presidente”, “Existia uma parede entre o amor”. Ao supor que determinados comportamentos estão superados, a publicidade cria um mundo ideal de perfeição. No mundo da MaxHaus, não existe temor em relação ao novo, pelo contrário, a diversidade e a autoexpressão são buscadas e acolhidas. A imagem coloca os jovens no centro, donos de suas próprias vidas, livres de papeis predefinidos, sempre prontos a ousar e “quebrar paredes”. O trocadilho é explícito para quem conhece a empresa: ela é pioneira na chamada arquitetura aberta (ArquiteturAberta, segundo sua grafia), na qual imóveis podem ser combinados para formar diferentes apartamentos. A visão é clara, o trocadilho dialoga com a marca. 

Ao supor que determinados comportamentos estão superados, a publicidade cria um mundo ideal de perfeição.

 

             A publicidade foca mais no apelo emocional gerado pela marca, seduzindo através da associação de um apartamento personalizado a uma imagem específica. A inovação, que supostamente era para libertar, prende o consumidor a uma identidade específica. Utilizando termos técnicos, nela predomina a interpelação sedutora, bem mais do que a retórica. Na interpelação sedutora, a “... mensagem publicitária sugere a possibilidade de realização do desejo por meio de uma idealização do produto/serviço”. Além disso, há ou busca-se “identificação completa entre o público e o objeto/serviço ou produto”

A imagem coloca os jovens no centro, donos de suas próprias vidas, livres de papeis predefinidos, sempre prontos a ousar e “quebrar paredes”.
 

                O conteúdo implícito não pode ser mais claro: inovação é o que a gente vende, inovação é o que você procura. Ou: inovação é o que você procura, inovação é o que a gente vende. A ordem das frases depende de quem você acha que está no comando: a publicidade ou o consumidor. 



2 comentários:

  1. Adorei, Guilherme! Analisou a campanha sem deixar de lado sua criticidade, presente principalmente no reenquadramento do início do texto.
    ;*

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